
Por Francisco Tramujas, Especialista em Vendas & Marketing Estratégico Autor de Marketing Estratégico para Revolucionar Mercados
I – A Epidemia de Analfabetismo Econômico
Chega a ser desesperador observar como a ideologia, a falta de leitura e o orgulho na ignorância passaram a dominar debates que deveriam ser pautados por dados. Em janeiro de 2025, sentei à mesa com um CEO de uma indústria de chocolates da qual fiz parte. Ele anunciava, com convicção cega, que o ano de 2025 a economia brasileira seria um desastre. “Ouvi dizer”, justificou.
Quando apresentei os números reais — crescimento do PIB acima de 2,4% em 2024, recordes históricos em vendas de veículos zero e usados, aquecimento do mercado imobiliário, desemprego em queda —, ele preferiu ignorar.
Os números, entretanto, contavam outra história:
- Crescimento do PIB de 2,4% em 2024, com projeção de 2,7% para 2025 (IBGE)
- Vendas de veículos novos batendo recorde histórico: 2,38 milhões de unidades em 2024 (Anfavea)
- Mercado imobiliário com crescimento de 15% nas transações (CBIC)
- Taxa de desemprego em 7,6% – menor patamar desde 2014
Preferiu a futurologia de mercado, essa que falha miseravelmente em 95% das vezes.
A desconexão entre dados e percepção não é acidental. É sintomática de um ambiente onde 95% das previsões catastróficas do mercado financeiro entre 2020-2024 falharam redondamente, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas.
II – A Falácia da Comparação: Valor de Mercado vs Geração de Riqueza Real
A postagem de diretor no LinkedIn, e que preservarei o nome porque eu não o conheço, comete um dos erros analíticos mais primários: confundir valor de mercado com geração de riqueza.

Vamos desmontar essa equação falaciosa com dados concretos:
Análise Fundamentalista: Petrobras vs Nubank
| Indicador Fundamentalista | Petrobras (2024) | Nubank (2024) | Análise Comparativa |
| Receita Líquida | R$ 722 bi | R$ 49,8 bi | Petrobras 14,5x maior |
| Lucro Líquido | R$ 77,3 bi | R$ 5,1 bi | Petrobras 15,2x maior |
| Margem Líquida | 15,8% | 10,2% | Petrobras 55% mais eficiente |
| EBITDA | R$ 279 bi | R$ 12,3 bi | Petrobras 22,7x maior |
| ROE (Return on Equity) | 28,7% | 8,9% | Petrobras 3,2x mais rentável |
| ROIC (Return on Invested Capital) | 22,4% | 6,3% | Petrobras 3,6x melhor |
| Dividend Yield | 12,8% | 0% | Petrobras paga dividendos |
| P/L (Price Earnings) | 4,2x | 58,3x | Nubank 14x mais cara |
| P/VP (Price to Book) | 0,8x | 4,2x | Petrobras abaixo do valor contábil |
| Dívida Líquida/EBITDA | 0,6x | 1,8x | Petrobras menos alavancada |
| Geração de Caixa Livre | R$ 184 bi | R$ 8,2 bi | Petrobras 22,4x mais caixa |
Posição Global da Petrobras:
- 5ª maior petroleira pública do mundo
- 2ª em margem de lucro líquida entre as petroleiras globais (15,8%)
- Responsável por 11% do PIB industrial brasileiro
Comparar esse gigante produtivo com uma fintech que opera no sistema bancário tradicional com roupagem digital é como comparar um aeroporto com um aplicativo de táxi.

III – O Paradoxo Bancário Brasileiro: Lucros sem Produção
Enquanto a Petrobras gera riqueza real, o sistema bancário brasileiro opera na lógica da redistribuição privilegiada:
- Spread bancário brasileiro: 26,4 pontos percentuais (vs 2,5 pp nos EUA)
- Lucro dos 4 maiores bancos (2024): R$ 142 bilhões
- Retorno sobre patrimônio: 19,3% (vs 9,8% média global)
O Nubank, especificamente:
- Lucro líquido (4T2024): R$ 1,1 bilhão
- Carteira de crédito: R$ 98 bilhões
- Base de clientes: 99 milhões
A matemática é simples: com Selic a 15%, operar no mercado de crédito brasileiro é como pescar em aquário. Não exige genialidade, apenas acesso ao sistema.
IV – A Anatomia da Desinformação Estruturada
O problema vai além da ignorância individual. Estamos diante de um ecossistema organizado de desinformação:
- Futurismo Catastrófico: 95% das previsões negativas do mercado não se materializam, mas criam volatilidade artificial
- Comparações Improcedentes: Igualar valor de mercado (especulação) com geração de riqueza real (produção)
- Narrativa Anti-Estatal Sistemática: Desqualificar empresas públicas bem-sucedidas por ideologia
- Financeirização da Economia: Valorizar intermediários financeiros acima de produtores reais
A Petrobras não é perfeita, mas seus números falam por si:
- Investiu R$ 42 bilhões em exploração em 2024
- Reduziu dívida líquida para USD 38,9 bilhões
- Manteve custo de produção abaixo de USD 7/barril

V – O Custo Real da Ignorância Organizada
Enquanto celebramos fintechs que basicamente refazem o modelo bancário tradicional com interface digital, negligenciamos o que realmente importa:
- Petrobras: Gera 500.000 empregos diretos e indiretos
- Setor bancário: Eliminou 35.000 postos entre 2022-2024 via automação
- Balanço comercial petróleo: Superávit de USD 28 bilhões (2024)
- Tributos pagos pela Petrobras (2024): R$ 186 bilhões
A questão fundamental é: queremos ser uma economia de produção ou de especulação? De geração de riqueza real ou de redistribuição financeira?
Os números não mentem
A Petrobras é uma máquina de geração de riqueza real, enquanto o Nubank representa a financeirização da economia. Um P/L de 4,2x versus 58,3x revela toda a distorção do mercado: enquanto investidores pagam 14 vezes mais por cada real de lucro do Nubank, a Petrobras segue gerando caixa, dividendos e riqueza para o país.
Estamos na encruzilhada entre o Brasil produtivo e o Brasil “financeirizado” (inventei uma nova palavra no estilo ex-ministro Rogério Magri, kkk). Enquanto a Petrobras bate recordes de produção, eficiência e lucratividade, setores inteiros da elite econômica preferem a narrativa da falência à evidência dos números.
A ignorância deixou de ser uma deficiência para se tornar uma posição política. E o custo dessa escolha será pago não nas bolsas de valores, mas nas fábricas, nos poços de petróleo, e no futuro produtivo do país.
Que este artigo sirva como antídoto à intoxicação numérica que assola nosso debate econômico. Os dados existem. Resta saber se temos a coragem de usá-los.
*Baseado em dados do IBGE, BP Statistical Review, Relatórios da Petrobras, Febraban e BCB.

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