
Por Francisco Tramujas, Especialista em Vendas & Marketing Estratégico Autor de Marketing Estratégico para Revolucionar Mercados
José Saramago nunca escreveu sobre empresas, mas escreveu sobre a essência humana. Em uma de suas apaixonantes obras Ensaio sobre a Cegueira é uma metáfora sobre como reagimos quando somos colocados diante do inesperado — seja uma epidemia, seja uma crise de mercado. Seus personagens, cegos pelo vírus, expõem medos, abusos e lampejos de esperança.
O livro de Saramago é tão impactante que virou o filme Blind para mostrar que a verdadeira escuridão não está nos olhos, mas na consciência humana.
No mundo corporativo, não há vírus, mas há cegueiras: seletivas, estratégicas, éticas. São elas que definem se uma empresa sobrevive ou sucumbe.

1. A ilusão do controle
“Nunca pensamos que fosse acontecer conosco”.
A fala na obra do primeiro cego ecoa como alerta: sempre acreditamos que o desastre é coisa distante, “dos outros”. Até que o imprevisível bate à porta.
No corporativo: empresas acreditam que seus planos de 5 anos são suficientes, que nada as abalará. É a síndrome de “too big to fail”. Mas basta um concorrente disruptivo ou uma crise global para a estrutura ruir.
Lição: O gestor que acredita no controle absoluto já está cego.
2. A corrosão ética em tempos de crise
“Quem tem comida manda, quem não tem obedece”.
Na obra no momento em que revela o manicômio, um grupo monopoliza a comida e exige favores sexuais em troca. É a face nua da degradação ética.
No corporativo: em momentos de crise, alguns gestores trocam transparência por manipulação. “A sobrevivência justifica os meios” é a desculpa de quem pisa em valores para manter o poder.
Lição: Ética não é ornamento, é estrutura.
3. Liderança em meio à escuridão
“Eu vejo. Não digo por vaidade, digo porque é verdade. Se não guiar vocês, ninguém guiará”. — diz a mulher do médico.
Páginas adiante, uma personagem se revela. Ela não queria a liderança, mas a responsabilidade lhe foi imposta pela lucidez em meio ao caos.
No corporativo: verdadeiros líderes não são escolhidos por crachás ou títulos, mas pelo peso que aceitam carregar quando ninguém mais se dispõe.
Lição: Liderar é servir, não se servir.
4. O poder da associação
“Se não estivermos juntos, morremos sozinhos”.
Durante O Ensaio sobre a cegueira um grupo descobre que a sobrevivência não é individual, mas coletiva. Ao mesmo tempo, alianças tóxicas também se formam, sustentadas pela exploração.
No corporativo: parcerias podem gerar inovação (joint ventures, ecossistemas de startups) ou criar cartelizações nocivas.
Lição: a força da associação depende da intenção: cooperação ou dominação.

5. A cegueira seletiva
“Pensávamos que fosse apenas uma doença dos outros. Não vimos os sinais”.
Enquanto o drama se desenvolve alguns personagens ainda se recusam a enxergar o início da epidemia é metáfora perfeita da negação.
No corporativo: líderes que ignoram dados, tendências e mudanças de comportamento do consumidor reproduzem a mesma cegueira seletiva. Blockbuster, Kodak e Nokia são ecos disso.
Lição: A pior cegueira é a escolha de não ver.
6. Desumanização como processo
“Já não somos pessoas, somos pragas”.
E no cume da obra o governo decide confinar os cegos em manicômios sem condições mínimas, tratando-os como descartáveis.
No corporativo: quantas vezes funcionários são reduzidos a “recursos”? Quantos clientes são tratados como “números de ticket”? A desumanização começa quando a linguagem reduz o humano ao funcional.
Lição: uma organização que desumaniza perde a alma e, cedo ou tarde, perde o mercado.
7. A esperança como último farol
“Apesar de tudo, ainda somos capazes de cuidar uns dos outros”.
Porém nem tudo está perdido no livro. Mesmo no desespero, há momentos de solidariedade. A mulher do médico guia, cuida, limpa feridas.
No corporativo: empresas que preservam cultura, propósito e confiança mantêm coesão em tempos difíceis. São as que saem mais fortes de crises.
Lição: esperança organizacional não é ingenuidade, é estratégia de sobrevivência.
Qual a melhor lição?
Em Ensaio sobre a Cegueira Saramago não dá nomes aos personagens porque eles somos nós: líderes, gestores, colaboradores, cidadãos. A cegueira que ele narra não é a dos olhos, mas a da consciência.
No mundo corporativo, a cegueira se manifesta quando líderes não querem ver os sinais, não querem assumir responsabilidades, ou não querem enxergar o humano por trás da planilha.
O gestor lúcido é aquele que, como a mulher do médico na obra, decide enxergar quando todos preferem fechar os olhos.
Quando todos ficam cegos… quem guia?
O Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago é mais do que literatura.
É um espelho do mundo corporativo.
– Crises revelam a ilusão do controle.
– A tentação da corrupção ética.
– A liderança que só surge quando alguém decide enxergar.
– As associações perigosas que podem salvar ou destruir.
– A cegueira seletiva que matou Blockbuster e Kodak.
– A desumanização que transforma pessoas em números.
– E a esperança como último farol.
Gestores, a mensagem é clara: o verdadeiro líder é aquele que enxerga quando todos estão cegos.
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